28.2.08

Necessidades


Não ando mais triste, mas sinto que ainda falta algum pedaço de mim. As coisas tendem a melhorar daqui pra frente, mas creio que esse “daqui pra frente” vá doer. Ninguém gosta de sofrer, até eu, mas sinto a necessidade de suprir, em alguém, algo que falta em mim. Eu não sei o que falta. Não sei se é calma, não sei se a pessoa daqui de dentro se perdeu em algum lugar, ou simplesmente congelou. Sinto-me como uma estátua, que de agora em diante vai prestar mais atenção nas aulas, principalmente as de Matemática. Preciso melhorar as notas: não por mim, mas por meus pais. Eles têm a necessidade de ver o boletim todo azul, mas não vêem o que realmente sentia, para que as notas saíssem daquele jeito. Não sei se não sou compreendido, ou se é eu que não compreendo as coisas, pois algumas coisas ainda não estão esclarecidas. Ultimamente, a vontade de ler Bukowski, Jack Kerouack ou outro escritor Beat qualquer vem crescendo à cada instante. A vontade de fumar sete cigarros seguidos, beber uísque e sair sem rumo por aí, também. Algo me diz que logo, logo vou fumar meu primeiro baseado, e irei acabar me sentindo culpado por isso. Tenho medo de dar a minha cara pra bater. A vida é uma guerra, uma luta. Estou ferido.
Pois é, o ferro de que eu achava ser feito, enferrujou. A imortalidade que eu sentia ter, evaporou-se com um sopro dado pela vida... Vida? Mas o que é isso? Um instrumento de tortura que nos faz crescer? Sinto-me tão vazio, que pensei que dor alguma iria sentir. Me fodi. Ando me esquecendo de falar com Deus. Talvez, acho tempo pra tudo, menos pra uma conversa com Ele. Não sei, mas toda vez que “falo” com Deus, me sinto um idiota, em pensar que, talvez, eu esteja falando sozinho. Louco. Dizem que todos os idiotas têm um poucos de loucos... Óh, errei! São os gênios. Talvez, a mesma coisa.

24.2.08

São Paulo

Eu não me lembro de muita coisa, talvez eu não me lembre de quase nada. As únicas imagens que vêem à minha cabeça, são de um vermelho intenso e sujo, que rodopiam sobre meus neurônios, pintando assim uma obra de arte abstrata. O vermelho em minha mente, era sangue espalhado pelo tapete da sala. O sangue era vivo, eu podia senti-lo. A sola do meu tênis tocava-o. Úmido. Frio, sujo. Era assim que as coisas iriam ser dali para frente.
Eu estava mais pra Jane, perdido naquela louca floresta de pedra. São Paulo era um imenso amontoado de cores e culturas. Era poesia ruminada e cagada em um imenso lugar cheio de prédios. São Paulo não era São Paulo, era um ser andrógino que tinhas seus grandes defeitos e suas qualidades, era borrões de tinta jogados sobre uma tela cinza, uma fotografia mal tirada, mas que ainda carregava em si sua beleza. Havia várias vacas, vários seres andróginos, vários pintores e fotógrafos ali. Pessoas era o que não faltava. Uma coriza de gente. As ruas entupidas. A meleca verde era eu, e todos sem esperança num país de merda. Eu pegava uma mecha do meu cabelo, enrolava e comprimia. O relógio não parava. Você não podia parar, tinha sempre que correr, mesmo cansado. Se parasse, morria, virava pedra. Milhões de estátuas habitavam São Paulo. Um lindo museu parado.
O melhor daquela cidade, era você poder andar por ela, pé no chão, olho no cinza. Eu realmente me sentia perdido, por mais que eu conhecesse aquele lugar como a palma das minhas mãos. Era só acender um cigarro, que as coisas ferviam. Eu tinha alergia à pessoas, e quanto menos elas ficavam perto de mim, melhor eu ficava. O contato humano realmente era dispensável, exceto na hora da transa, é claro. De vez em quando é bom jogar a porra toda pra fora, sem uma punheta. Nada que a rua Augusta e uns trocados não dêem um jeito. Parei na calçada e esperei o ônibus. Prefiro matar uma pessoa do que esperar um ônibus. Entrei, e me sentei num banco. Era no ônibus quando eu mais pensava na vida. Copo de café.

23.2.08

Mentiras

Desde pequeno, escrevia mentiras. Nas cartas, dizia que meu pai era meu herói, mas sabia que ele não ia me salvar, muito menos me ensinar a voar. Nas cartas, escrevia que minha mãe era minha melhor amiga, mas eu sabia que quase nenhuma palavra nós trocamos, e ela nunca soube me entender. Nunca escrevi cartas ao meu irmão, pois sei que também ia mentir. Então, a sinceridade fica pra dentro de mim, guardada, escondida, oculta, até um dia que eu vier a me arrepender de não expressar o que realmente eu sentia. Agora, eu sei que meu maior medo é sentir MEDO, e sempre saber errar.