Eu não me lembro de muita coisa, talvez eu não me lembre de quase nada. As únicas imagens que vêem à minha cabeça, são de um vermelho intenso e sujo, que rodopiam sobre meus neurônios, pintando assim uma obra de arte abstrata. O vermelho em minha mente, era sangue espalhado pelo tapete da sala. O sangue era vivo, eu podia senti-lo. A sola do meu tênis tocava-o. Úmido. Frio, sujo. Era assim que as coisas iriam ser dali para frente.
Eu estava mais pra Jane, perdido naquela louca floresta de pedra. São Paulo era um imenso amontoado de cores e culturas. Era poesia ruminada e cagada em um imenso lugar cheio de prédios. São Paulo não era São Paulo, era um ser andrógino que tinhas seus grandes defeitos e suas qualidades, era borrões de tinta jogados sobre uma tela cinza, uma fotografia mal tirada, mas que ainda carregava em si sua beleza. Havia várias vacas, vários seres andróginos, vários pintores e fotógrafos ali. Pessoas era o que não faltava. Uma coriza de gente. As ruas entupidas. A meleca verde era eu, e todos sem esperança num país de merda. Eu pegava uma mecha do meu cabelo, enrolava e comprimia. O relógio não parava. Você não podia parar, tinha sempre que correr, mesmo cansado. Se parasse, morria, virava pedra. Milhões de estátuas habitavam São Paulo. Um lindo museu parado.
O melhor daquela cidade, era você poder andar por ela, pé no chão, olho no cinza. Eu realmente me sentia perdido, por mais que eu conhecesse aquele lugar como a palma das minhas mãos. Era só acender um cigarro, que as coisas ferviam. Eu tinha alergia à pessoas, e quanto menos elas ficavam perto de mim, melhor eu ficava. O contato humano realmente era dispensável, exceto na hora da transa, é claro. De vez em quando é bom jogar a porra toda pra fora, sem uma punheta. Nada que a rua Augusta e uns trocados não dêem um jeito. Parei na calçada e esperei o ônibus. Prefiro matar uma pessoa do que esperar um ônibus. Entrei, e me sentei num banco. Era no ônibus quando eu mais pensava na vida. Copo de café.
24.2.08
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2 comentários:
Quanto mais conheço o homem e a mim mesmo, mas me odeio. Mas te amo!
De Neuromancer...
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